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Os vídeos e o impacto na fala nas crianças

  • Foto do escritor: Soraia Algarinho
    Soraia Algarinho
  • 23 de mai.
  • 2 min de leitura

Nos dias de hoje as nossas crianças têm cada vez mais acesso a conteúdos audiovisuais, com maior facilidade e oportunidade, e uma grande parte desse material provém do Português do Brasil. Seja através de aplicações com jogos, do YouTube ou nas redes sociais, os vídeos têm uma forte influência sobre a linguagem e a fala dos mais novos.


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Será que esta exposição tem impacto no seu desenvolvimento?

Uma das alterações mais visíveis na fala das crianças que vê frequentemente conteúdos do Português do Brasil é a utilização de expressões típicas. Palavras como "legal", "cara", "picolé" ou "banheiro" começam a fazer parte do vocabulário infantil, substituindo palavras mais comuns em Portugal, como "fixe", "rapaz", "gelado" e "casa de banho". Para além do léxico, nota-se também uma mudança na pronúncia e na entoação, com algumas crianças a adotarem um sotaque mais próximo do Português do Brasil em certas palavras (alteração da sílaba tónica, vogais mais abertas, omissão de sons).


A exposição prolongada a esses conteúdos pode também influenciar a estrutura gramatical utilizada pelas crianças. Expressões como " estar fazendo", “me vesti” ou "a gente foi na escola" surgem no discurso de algumas delas, o que pode gerar diferenças face às regras gramaticais do português europeu. Esta situação pode criar desafios na aprendizagem da língua, especialmente no contexto escolar, onde a norma padrão é valorizada.


Mas se falamos de consequências negativas, há também a referir benefícios. A exposição ao Português do Brasil pode, por exemplo, enriquecer o repertório linguístico das crianças, ajudando-as no desenvolvimento da compreensão oral quando há variações da língua. Além disso, a familiaridade com diferentes formas de falar português pode ser uma vantagem quando precisarem comunicar com pessoas que falam outras variantes da língua.


Assim, diante deste cenário, o importante é que pais mas também educadores estejam atentos à forma como as crianças consomem conteúdos audiovisuais. Em vez de proibir ou desencorajar o contacto com vídeos do Português do Brasil, uma das estratégias poderá ser diversificar as fontes, incentivando à visualização de conteúdos do Português Europeu e realizarem a tarefa de reflexão conjunta acerca das diferenças linguísticas, bem como, é claro, controlar o tempo dessa exposição. Dessa forma, as crianças poderão usufruir dos benefícios da diversidade linguística sem comprometer a sua aprendizagem do Português Europeu.


Em suma, considero que o problema não está nos vídeos, mas principalmente no tempo que as crianças passam expostas aos mesmos – o modelo – acarretando um impacto negativo na fala e na linguagem (vocabulário, pronúncia e, por vezes, até na estrutura gramatical do seu discurso) podendo na escola, ter impactos “desnecessários” na leitura e escrita, quando estas estão mais tempo expostas a estes vídeos do que ao verdadeiro modelo – os pais, família e amigos.


Embora esta influência possa ser vista como um desafio, também representa uma oportunidade para enriquecer o contacto com a língua portuguesa. O essencial é garantir um equilíbrio saudável na exposição, permitindo que as crianças se desenvolvam de forma saudável e diversificada.


 Palavras-Chave: Tecnologias; Vídeos; Youtube; Português do Brasil; Português Europeu; Linguagem; Fala; Leitura; Escrita

 
 
 

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