O olhar do Terapeuta da Fala nos erros da escrita das crianças
- Soraia Algarinho

- 9 de set.
- 2 min de leitura
As crianças quando aprendem a escrever, são constantemente deparadas com erros de escrita, que são, muitas vezes, motivo de frustração. Isto porque perante o erro, que professora assinala (e, por vezes, de uma forma bem visível) os pais estão constantemente a corrigir e a chamar a atenção, as crianças acabam na maioria das vezes, por se sentir confusas e/ou desmotivadas.

Mas e se pensarmos que esses erros são pistas muito importantes sobre o desenvolvimento da linguagem escrita?
Na perspetiva do Terapeuta da Fala, os erros de escrita não são apenas “trocas de letras”, mas indicadores do funcionamento linguístico da criança. Quando uma criança escreve “sapéu” em vez de “chapéu”, esse erro pode apontar para dificuldades na consciência fonológica, ou seja, na capacidade de perceber e manipular os sons da fala, muito importante/essencial para o sucesso na leitura e escrita.
Além disso, alguns erros estão diretamente relacionados com os desafios da escrita do Português Europeu, a relação entre o som e o grafema (letra), ou seja, a correspondência entre aquilo que se ouve e, a sua representação gráfica pois o que acontece, muitas vezes, é que esta correspondência não é direta, por exemplo quando dizemos “pato” o último som é /u/ mas quando se escreve utilizamos a letra [o].
Quando analisamos os erros, o que é que eles nos podem dizer:
• Trocas como “menino” por “meninu” podem indicar influência da oralidade na escrita.
• Omissões como “esola” por “escola” podem estar relacionadas a alterações fonológicas.
• Escritas como “felore” mostram dificuldades na análise e segmentação dos sons.
Para nós, Terapeutas da fala, estes erros funcionam como um guia acerca do desenvolvimento linguístico da criança. Em vez de simplesmente corrigir, o profissional interpreta, identifica padrões, e intervém na base que precisa de ser estimulada. Daí ser fundamental passar a mensagem que “mais do que corrigir, é preciso compreender”.
Quando o erro na escrita é visto apenas como uma falha, a tendência é a penalização, seja através de baixar as notas ou até por repreensões/comentários negativos, o que resulta uma desmotivação, frustração da criança e esta, por conseguinte, tem menos vontade para escrever, gosta cada vez menos de escrever, afetando diretamente a sua aprendizagem.
Por isso, é fundamental que pais e professores olhem para os erros com um olhar diferente. O erro é uma oportunidade de aprendizagem e um reflexo das competências linguísticas ainda em desenvolvimento. Assim, a atuação em conjunto entre escola, família e Terapeuta da Fala, o mais cedo possível, pode fazer toda a diferença.
O que podemos fazer?
Será essencial observar com atenção os tipos de erros e a sua frequência e, tentar evitar rotular a criança como distraída ou preguiçosa. Considero que seja importante consultar o Terapeuta da Fala quando os erros persistem, ou são atípicos para a idade mas, acima de tudo, valorizar o processo e não apenas o resultado final.
Em suma, cada erro conta uma história. E o nosso papel é ter sensibilidade, interpretar com conhecimento e agir com empatia. Afinal, uma criança que escreve com erros está, acima de tudo, a tentar comunicar e isso é sempre o primeiro passo para aprender.
Palavras-Chave: Terapeuta da Fala; Erros da escrita; Crianças; Escola




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