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A relação entre dislexia e questões emocionais... Será que existe mesmo ligação?

  • Foto do escritor: Francisca Maia
    Francisca Maia
  • 11 de nov.
  • 3 min de leitura

No passado mês de Outubro assinalou-se o dia da dislexia, e é também foi uma boa oportunidade para refletirmos sobre um tema menos falado, mas de grande importância: a relação entre a dislexia e as questões emocionais. Será que existe mesmo uma ligação entre ambas?

A resposta é sim. E compreender essa ligação é essencial para que exista apoio às crianças e adolescentes com dislexia.


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A dislexia é uma perturbação específica da aprendizagem que interfere na capacidade de ler e escrever de forma fluente e automática, mesmo quando a criança tem inteligência, curiosidade e oportunidades de aprendizagem adequadas. Muitas vezes, associa-se apenas às dificuldades escolares, mas o seu impacto vai muito além da sala de aula. A dislexia também afeta o mundo emocional e social de quem a vive, deixando marcas na autoestima, na autoconfiança e no modo como a criança se vê a si própria e ao seu desempenho.


Para muitos alunos com dislexia, o contacto diário com a leitura e a escrita é uma experiência repleta de esforço e frustração. Enquanto os colegas avançam nas tarefas com aparente facilidade, quem tem dislexia sente que está sempre a tentar alcançar algo que parece fugir-lhe das mãos. Esforça-se mais, mas obtém menos resultados. Com o tempo, essa comparação constante pode gerar sentimentos de incapacidade, vergonha e até desmotivação. É comum surgirem pensamentos negativos como “sou burro”, “não consigo aprender” ou “não vale a pena tentar”, que se transformam em crenças limitadoras e afetam profundamente o bem-estar emocional e a relação com a escola.


Os impactos emocionais variam conforme a idade, o tipo de apoio e o ambiente familiar e escolar, mas há sinais que aparecem com frequência: baixa autoestima, medo de errar, ansiedade antes das atividades de leitura ou escrita, evitamento escolar, irritabilidade, frustração e tristeza perante as tarefas. Quando estas emoções não são reconhecidas e acompanhadas, podem criar um ciclo difícil de quebrar, quanto mais a criança se sente incapaz, mais evita aprender, e mais distante fica do processo de aprendizagem.


É por isso que o acolhimento emocional é tão importante. Os pais, professores e

psicólogos podem desempenhar um papel decisivo ao reconhecer o esforço, e não apenas o resultado, ao evitar comparações com colegas ou irmãos e ao celebrar cada pequena conquista. Valorizar outras competências, como a criatividade, o raciocínio, a sensibilidade e o humor da criança ajuda a reforçar a autoconfiança e a construir um ambiente de segurança emocional, onde o erro é visto como parte natural e necessária da aprendizagem.


Em Portugal, existem também medidas de apoio à aprendizagem, definidas no artigo 54.° do Decreto-Lei n.o 54/2018, que têm como objetivo garantir a equidade e a inclusão educativa. Estas medidas permitem ajustar o processo de ensino às necessidades específicas de cada aluno, promovendo condições mais justas de aprendizagem e avaliação. No caso da dislexia, podem incluir, por exemplo, a leitura das provas por um adulto, a realização de testes adaptados, mais tempo para concluir as avaliações, ou a possibilidade de realizar os testes numa sala diferente, com um ambiente mais calmo e menos distrativo. Estas adaptações não são privilégios, mas sim ferramentas essenciais para que a criança ou o adolescente possa demonstrar o seu verdadeiro potencial, sem ser penalizado pelas dificuldades específicas que enfrenta.


O apoio psicopedagógico e psicológico também é fundamental. Quando psicólogos, terapeutas da fala e professores trabalham em conjunto, é possível desenvolver estratégias personalizadas que ajudam a melhorar as competências de leitura e escrita, enquanto fortalecem a autoestima e promovem a regulação emocional. A intervenção precoce e o acompanhamento adequado fazem toda a diferença no percurso escolar e emocional da criança.


A dislexia não define quem a criança ou o adolescente é, ela apenas mostra uma forma diferente de aprender. Com compreensão, empatia e estratégias ajustadas, é possível transformar as dificuldades em oportunidades de crescimento e descoberta. O impacto emocional da dislexia é real e profundo, mas pode ser significativamente minimizado quando existe uma rede de apoio que acolhe, compreende e valoriza o potencial de cada criança.


Palavras-chave: Dislexia; Psicologia; Ansiedade escolar; Dificuldades de aprendizagem; Frustração; Dificuldades na leitura e escrita

 
 
 

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