Sistemas de comunicação: “um bicho de sete cabeças”
- Catarina Lorga
- 5 de mai.
- 3 min de leitura
Vamos “banalizar” os sistemas de comunicação, entender que são uma mais-valia e que são um facilitador das aprendizagens tal como os brinquedos, jogos, parques infantis, etc. E se estão a questionar se para utilizar têm de conseguir ser tão rápidos quando a Terapeuta da Fala o é na utilização nas sessões, a resposta é um Não gigante, pois a terapeuta assim o é pela prática e porque precisa de o ser para suportar as aprendizagens ao longo da sessão.

1º São facilitadores da descodificação da fala: Esta ferramenta comunicativa já é estuda há imensos anos e os estudos continuam a comprovar a sua eficácia na facilitação das aprendizagens e da disponibilidade da criança para resolver os conflitos que encontra nas suas rotinas. Sobretudo as pistas visuais, não deixam margem para dúvidas. A informação que elas nos transmitem não acaba no tempo (como a fala que quando é dita não há como ir repeti-la automaticamente), permanece pelo tempo que a criança precisar para a descodificar. A informação transmitida é também clara e torna o abstrato em concreto, facilitando a compreensão do que estamos a transmitir. Assim, são um prolongamento da nossa fala no tempo respeitando o tempo que cada um de nós demora a descodificar a informação que é dita.
2º São promotores da fala: Se percebermos que para falar temos que desencadear 3 etapas: evocar o conceito que queremos transmitir; planear os movimentos motores orais para articular as palavras; executar os movimentos motores orais/falar; então posso dizer-vos que as pistas visuais simplificam este processo tornando as 3 etapas em apenas 2. Ou seja, quando as pistas visuais estão disponíveis, só precisamos de olhar para ela e fazer as 2 últimas etapas como planear e executar a fala. É ou não é espetacular termos uma ferramenta que nos dá menos trabalho para falar? Sobretudo se pensarmos que as crianças com autismo já têm tantas dificuldades na getsão dos estímulos do ambiente, na regulação sensorial, imaginem se ainda estou a exigir que gira mais uma dificuldade (funções cognitivas – evocar conceitos) para falar? Pois está claro, vai preferir não falar connosco. E sim, a criança começou a falar e continua a utilizar sistema pois continua a ter que gerir todas as dificuldades mencionadas uma vez que o processo de fala continua a ter as 3 etapas descritas, mesmo em nós adultos que já temos domínio completo do processo.
3º São facilitadores da vida social: Sim, aquela que todos queremos ter mesmo com filhos como ir a festas de família, aniversários, passeios na praia, férias, etc. As pistas visuais são um enorme facilitador para a criança compreender o que vai acontecer no contexto para o qual vão permitindo que ela, com esta informação prévia, esteja mais disponível para gerir as características sensoriais do ambiente e usufrua do que o contexto tem para lhe oferecer. Imaginem o quão agradável é estarmos num contexto social em alerta máximo pois não fazemos ideia do que esperar e do que vai acontecer pois não temos competências de antecipar e fazer ajustes sociais? Não é nada agradável, eu sei, por isso lembrem-se: Não fazemos aos outros o que não gostamos que façam connosco, por isso se quando há um evento com dress code vocês precisam de saber antecipadamente qual é, então a vossa criança vai precisar que lhe mostrem qual é o dress code dos locais para onde a levam (tipo de contexto, quantidade de pessoas, o que vai poder fazer, o que não vai poder fazer, etc – este é o seu dress code). E levem o dress code dela para que possa recorrer a ele sempre que for necessário. Exato, se levarem em pistas visuais não vão ter que repetir mil vezes a mesma coisa porque a informação permanece no tempo, não é fantástico?
Espero que tenham compreendido que os sistemas de comunicação que a vossa terapeuta tanto vos fala não são algo para vos dar trabalho, são uma ferramenta cheia de evidência científica que só vais tornar a superação de dificuldades da vossa criança um processo mais rápido e menor difícil. Por isso, não perguntem quando é que o vosso filho vai falar, perguntem antes “Então Catarina, quando introduzimos o sistema de comunicação?”
Palavras-Chave: sistemas de comunicação; fala; vida social; inclusão
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