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A brincar é que a gente se entende!

Foto do escritor: Catarina LorgaCatarina Lorga

Vamos refletir sobre a premissa: a profissão dos adultos é o seu trabalho e a das crianças é o brincar. E acrescentando que no seu desenvolvimento normativo, as crianças se ocupam do brincar diário em relação com os outros e é assim que adquirem as competências necessárias. Então porque estamos a exigir às nossas crianças com Perturbações do desenvolvimento que se sentem numa mesa a trabalhar? Vamos deixar de tratá-las como adultos, caso contrário a infância está-lhes a ser roubada.



Sabemos, pela evidência científica, que a brincar, o número de repetições que uma criança precisa para adquirir a competência é significativamente menor comparativamente com a aquisição em tarefa (atividade estruturada como jogos de repetição e cognitivos), então será que vale a pena perdermos tempo em tarefa? Ou valerá mais a pena brincarmos com elas e termos aquisições mais rápidas e com melhor qualidade?


É através da relação com o outro que as crianças adquirem as competências necessárias para o seu desenvolvimento e, por isso, precisamos de tê-las envolvidas e a retirar prazer das interações para alcançarmos o sucesso terapêutico. Torna-se então fundamental que o brincar seja o meio para atingirmos o fim (objetivos terapêuticos) e é nele que a criança encontra interesse e motivação e, ao mesmo tempo, a liberdade para ser criança, para criar e reinventar, para se zangar e para ser acolhida e receber conforto.


Mas então, é só deixá-la brincar? A resposta é não! É preciso entrar e participar na brincadeira dela, é preciso estar na relação com a criança para que sejamos um modelo para a aprendizagem, é preciso mostrar e criar para que ela imite, é preciso criar desafios e suportar a resolução de problemas para que saiba como expandir o brincar, é sobretudo preciso saber que o scaffolding é a base da aprendizagem. E por scaffolding entende-se que partimos do brincar que a criança tem no momento e suportamos a complexidade do mesmo, introduzindo novas formas de utilizar o brinquedo, novas ideias, novos brinquedos que se juntam ao atual, novos problemas para que seja capaz de os resolver. E com tudo isto trabalhamos todas as competências essenciais e cruciais ao desenvolvimento afetivo e harmonioso que lhe vão permitir integrar e participar nos demais contextos sociais.


E para mim, Terapeuta da Fala, é no brincar que sei que a criança retira prazer da sessão e de estar ali, comigo e com a família. E é no brincar que trabalhamos (terapeutas e pais) as competências de envolvimento e comunicação, de linguagem seja compreensiva seja expressiva, de imitação e orais (que envolvem questões táteis e de práxis oral que afetam diretamente a fala). Então e se existirem questões comportamentais ou sensoriais, não é preciso haver adaptações? Têm e não há problema, o brincar continua a ser a resposta. Efetivamente, existem adaptações (como integrar materiais táteis nas sessões ou que permitam dar movimento à criança, ter suporte para auxiliar o sentar, ter suportes visuais que ajudam na adequação de comportamento, entre outros) que temos de fazer e que são vistas em conjunto com a Psicologia e Terapia Ocupacional, mas com os ajustes do meio e dos materiais, estas crianças continuam a ter o brincar como ocupação e é através dele que as competências são adquiridas, pois é ele que permite o envolvimento afetivo necessário à aprendizagem.

 

E sim, o brincar permite isto tudo e muito mais, e a mim apenas exige alguma flexibilidade corporal e ginástica para estar no chão, com eles. E acreditem, é maravilhosamente divertido, experimentem!


Palavras-Chave: brincar, crianças, comunicação, linguagem, terapia da fala


 
 
 

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